Oncopediatria e câncer infantil: saiba mais sobre os temas
O câncer infantil, embora raro, representa uma das principais preocupações em saúde pediátrica. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), é a principal causa de morte entre crianças e adolescentes, atrás apenas dos acidentes. A oncopediatria, ramo da medicina especializado no diagnóstico e tratamento de câncer em crianças, desempenha um papel fundamental nesse contexto.
Neste artigo, vamos explorar o que faz um oncologista pediatra, como deve ocorrer a assistência em oncologia pediátrica, quais são os primeiros sinais do câncer infantil, os tipos mais comuns de câncer na infância e o que pode levar uma criança a desenvolver a doença.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Brasil, são diagnosticados anualmente aproximadamente 12.500 novos casos de câncer em crianças e adolescentes.
O que faz um oncologista pediatra?
O oncologista pediátrico é o profissional médico especializado no tratamento de crianças com câncer. Esse especialista não apenas realiza o diagnóstico da doença, mas também orienta sobre o tratamento, acompanhamento e apoio psicológico tanto para a criança quanto para sua família. O oncologista pediátrico tem um conhecimento aprofundado sobre as particularidades do câncer infantil, considerando que os tipos de câncer que afetam crianças são diferentes daqueles que acometem adultos.
Além de ser responsável por tratar os casos de câncer, o oncologista pediátrico também coordena uma equipe multidisciplinar, composta por enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, para garantir o melhor atendimento ao paciente. O tratamento pode envolver uma combinação de quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, transplante de células-tronco e, em alguns casos, cirurgia.
O câncer infantil representa cerca de 3% de todos os cânceres diagnosticados no país, mas seu impacto é imenso, e o diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença.
Como deve acontecer a assistência em oncologia pediátrica?
A assistência em oncologia pediátrica deve ser integrada, humanizada e conduzida por uma equipe multidisciplinar. Por se tratar de um público delicado, que inclui crianças e adolescentes com câncer, o atendimento exige uma abordagem especializada, com foco tanto no tratamento da doença quanto na qualidade de vida do paciente e de seus familiares.
O diagnóstico precoce é o primeiro passo fundamental. Identificar a doença em estágios iniciais pode aumentar significativamente as chances de cura. Isso envolve a atenção constante aos sintomas e o encaminhamento ágil para centros especializados, onde o diagnóstico preciso é feito com o auxílio de exames clínicos, laboratoriais e de imagem.
Uma vez diagnosticada a doença, o tratamento é planejado de forma individualizada, levando em conta o tipo de câncer, o estágio da doença e as características de cada paciente.
Equipe multidisciplinar e humanização
O papel de uma equipe multiprofissional é essencial durante todo o processo. Enquanto o oncologista pediátrico lidera o tratamento, os demais profissionais oferecem cuidados complementares, como o suporte nutricional, o controle da dor e o apoio psicológico. A presença de cuidados paliativos, mesmo durante o tratamento curativo, também é importante para promover o conforto e o alívio de sintomas.
Além disso, a humanização do atendimento desempenha um papel crucial. Ambientes hospitalares adaptados, com espaços acolhedores e lúdicos, ajudam a amenizar o impacto emocional do tratamento. A comunicação com a criança ou adolescente é feita de forma sensível, respeitando sua idade e compreensão, enquanto a família recebe orientação e apoio constante para lidar com os desafios do processo.
Por fim, o acompanhamento pós-tratamento é indispensável para monitorar possíveis recidivas e efeitos tardios da terapia. A reabilitação física, psicológica e social deve ser uma prioridade, assegurando que a criança retorne à sua rotina e tenha um desenvolvimento saudável. A oncologia pediátrica, portanto, vai além da cura da doença, valorizando cada aspecto da vida do paciente e promovendo um cuidado integral que envolve ciência, empatia e compromisso com o futuro das crianças e adolescentes.
Quais são os primeiros sinais do câncer infantil?
O diagnóstico precoce do câncer infantil pode ser um desafio, pois muitos dos sintomas iniciais se assemelham a doenças comuns ou mais simples, como gripes ou resfriados. No entanto, a detecção precoce pode melhorar significativamente as chances de tratamento eficaz e aumento da sobrevida. Diversos estudos e levantamentos destacam quais sinais devem ser observados pelos pais e responsáveis.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) e um estudo publicado na Pediatric Blood & Cancer Journal, os primeiros sinais do câncer infantil geralmente envolvem sintomas vagos e que não desaparecem com tratamentos convencionais. Alguns dos sinais mais frequentes incluem:
Dor persistente
A dor persistente, especialmente em áreas como os ossos, articulações ou costas, é um dos sintomas mais comuns. De acordo com um levantamento da American Cancer Society (ACS), cerca de 35% das crianças com câncer relatam dor como um dos primeiros sintomas. A dor pode ser constante ou intermitente e pode piorar com o tempo, não respondendo a tratamentos simples como analgésicos comuns.
Febre inexplicada
A febre contínua ou intermitente, sem causa aparente, pode ser um dos primeiros sinais do câncer infantil, particularmente leucemias. A Children's Oncology Group revela que a febre é um dos sintomas iniciais mais comuns em crianças com leucemia linfoblástica aguda (LLA). Estudos mostram que cerca de 20% das crianças diagnosticadas com leucemia começam com febres persistentes, que não desaparecem com medicamentos.
Perda de peso e apetite
A perda de peso inexplicada e a falta de apetite são comuns em crianças com câncer. De acordo com a American Society of Clinical Oncology (ASCO), a perda de peso involuntária pode ser um dos primeiros sinais em cânceres como neuroblastoma e tumores abdominais. Estudos mostram que 15% das crianças com câncer têm uma perda de peso significativa antes do diagnóstico.
Nódulos ou inchaços
O aparecimento de nódulos ou inchaços em áreas como o pescoço, abdômen, ou sob a pele é um sinal importante que pode indicar câncer. De acordo com a Pediatric Cancer Foundation, cerca de 20% dos diagnósticos de câncer infantil envolvem o aumento de linfonodos ou a presença de massas visíveis em regiões como o pescoço, abdômen ou nas extremidades.
Mudanças na pele
Alterações na pele, como palidez inexplicável ou manchas roxas (equimoses) que surgem sem razão aparente, podem ser sinais de leucemia ou outros cânceres hematológicos. Segundo a Leukemia & Lymphoma Society, essas mudanças ocorrem devido à queda nas células sanguíneas, o que prejudica a capacidade do corpo de transportar oxigênio ou combater infecções.
Cefaleia persistente
Dores de cabeça fortes, que não desaparecem e podem ser acompanhadas de vômitos, podem ser sinais de tumores cerebrais. Pesquisa publicada no Journal of Neuro-Oncology indica que 30% das crianças diagnosticadas com tumores cerebrais relatam cefaleias persistentes, frequentemente associadas a outros sintomas, como mudanças no equilíbrio ou na visão.
Alterações no comportamento ou na função cognitiva
Em casos de tumores cerebrais, as alterações no comportamento ou na capacidade cognitiva também são sinais importantes. Isso pode incluir perda de memória, dificuldade para realizar tarefas simples ou mudança de personalidade. Um estudo realizado pela National Brain Tumor Society descobriu que 25% das crianças com câncer cerebral apresentaram dificuldades cognitivas como o primeiro sintoma.
Dados e estudos relevantes
Taxa de diagnóstico tardio: um estudo realizado pela American Cancer Society (ACS) e pela Pediatric Oncology Group revelou que 25% das crianças com câncer são diagnosticadas em estágios mais avançados, o que pode comprometer as chances de cura. A detecção precoce, no entanto, tem mostrado uma taxa de sobrevida de até 80%, dependendo do tipo de câncer.
Câncer cerebral: um levantamento da National Cancer Institute (NCI) apontou que os tumores cerebrais são responsáveis por 25% dos casos de câncer infantil. Cerca de 30% das crianças diagnosticadas com tumores cerebrais tiveram dores de cabeça frequentes ou alterações no equilíbrio como os primeiros sintomas.
Duração dos sintomas: um estudo realizado pela Journal of Clinical Oncology analisou os sintomas iniciais de crianças diagnosticadas com câncer e concluiu que 40% dos pais demoraram de 1 a 3 meses para procurar ajuda médica após o aparecimento dos primeiros sinais, como dor ou febre. O estudo enfatiza a importância de um acompanhamento contínuo e atento por parte dos responsáveis.
O que fazer em caso de suspeita?
Se os pais ou responsáveis perceberem qualquer um dos sinais mencionados acima, é crucial buscar orientação médica imediatamente. O oncologista pediátrico será capaz de realizar exames, como exames de sangue, biópsias e imagens, para determinar a causa dos sintomas. Quanto mais cedo o câncer tiver sua detecção, maiores serão as chances de tratamento eficaz e de cura.
Além disso, é importante que os profissionais de saúde estejam atentos ao fato de que muitos desses sintomas podem ser causados por outras condições, mas o acompanhamento contínuo e o diagnóstico precoce são fundamentais para garantir que uma criança receba o tratamento necessário o quanto antes.
Qual é o câncer mais comum em crianças?
O câncer mais comum em crianças é a leucemia, que representa cerca de 30% dos casos de câncer infantil. A leucemia é um câncer do sangue e pode ser classificada em leucemia linfoblástica aguda (LLA) ou leucemia mieloide aguda (LMA), sendo a LLA a forma mais frequente em crianças.
Outros tipos de cânceres também são comuns na infância, tais como:
- Tumores cerebrais: o segundo tipo mais comum, representando cerca de 25% dos casos de câncer infantil.
- Linfoma: afeta os linfócitos e pode causar inchaço nos gânglios linfáticos, fígado ou baço.
- Neuroblastoma: um tipo de câncer que se origina nas células nervosas e afeta principalmente crianças pequenas.
Além disso, outros cânceres como rabdomiossarcoma, retinoblastoma e osteossarcoma também são frequentes em crianças, mas menos comuns em comparação com os mencionados.
O que leva uma criança a ter câncer?
Embora a maioria dos tipos de câncer infantil não tenha uma causa claramente definida, estudos têm identificado uma combinação de fatores genéticos, ambientais e biológicos que podem contribuir para o desenvolvimento do câncer em crianças. Diferente dos adultos, em que os hábitos de vida, como tabagismo e dieta, estão fortemente associados ao câncer, no caso das crianças, a maioria dos cânceres ocorre sem explicação aparente.
Fatores genéticos e hereditários
A genética desempenha um papel importante no desenvolvimento de alguns tipos de câncer em crianças. Embora o câncer infantil seja, em grande parte, esporádico (não hereditário), cerca de 5% a 10% dos casos de câncer em crianças têm uma causa genética ou hereditária identificável.
Síndromes genéticas
Existem várias síndromes genéticas raras que aumentam o risco de câncer em crianças. Alguns exemplos incluem:
Síndrome de Li-Fraumeni: uma condição genética rara que aumenta o risco de vários tipos de câncer, como leucemia, tumores cerebrais e sarcomas, desde a infância. Estima-se que as crianças com essa síndrome tenham até 50% de chance de desenvolver câncer antes dos 30 anos.
Neurofibromatose: uma condição hereditária que pode causar o crescimento de tumores nos nervos, incluindo tumores cerebrais, sarcomas e leucemia. De acordo com a Neurofibromatosis Network, crianças com essa síndrome têm um risco significativamente maior de desenvolver certos tipos de câncer.
Sindrome de Down (Trissomia 21): crianças com síndrome de Down têm maior risco de desenvolver leucemia, especialmente a leucemia linfoblástica aguda (LLA), com um risco aproximadamente 10 a 20 vezes maior que a população geral, como indicam estudos da National Down Syndrome Society (NDSS).
Mutação genética espontânea
Em muitos casos, o câncer infantil tem sua causa por mutações genéticas espontâneas, ou seja, mudanças nos genes da criança que ocorrem sem uma explicação clara. Essas mutações podem ocorrer devido a erros na replicação celular durante o desenvolvimento da criança ou fatores ambientais ainda não identificados.
Fatores ambientais e exposição a substâncias químicas
Embora o impacto de fatores ambientais no câncer infantil seja menos compreendido do que em adultos, algumas evidências sugerem que a exposição a certos produtos químicos, radiação e outros fatores ambientais podem aumentar o risco de desenvolvimento de câncer em crianças. No entanto, é importante ressaltar que a maioria das crianças expostas a esses fatores não desenvolve câncer, e a maioria dos casos de câncer infantil ocorre sem qualquer exposição conhecida a substâncias tóxicas.
Exposição à radiação
Crianças que foram tratadas com radiação para câncer em outras partes do corpo ou que foram expostas demasiadamente a radiações ionizantes, como os raios-X, apresentam um risco aumentado de desenvolver certos tipos de câncer. Segundo a American Cancer Society (ACS), a exposição à radiação durante a infância pode aumentar o risco de leucemia e tumores cerebrais mais tarde na vida.
Produtos químicos e poluentes
A exposição a substâncias químicas como pesticidas, solventes industriais e produtos químicos usados na agricultura tem sido associada a um aumento no risco de alguns tipos de câncer, como leucemia e linfoma em crianças. Embora a relação entre esses fatores e o câncer infantil não esteja completamente estabelecida, alguns estudos sugerem que essas substâncias podem atuar como agentes cancerígenos. Um estudo publicado na Environmental Health Perspectives indicou que crianças que viveram em áreas de alto risco de exposição a pesticidas têm um risco aumentado de leucemia e linfoma.
Sistema imunológico e infeções virais
O sistema imunológico desempenha um papel vital na proteção contra o desenvolvimento de células cancerígenas. No entanto, crianças com sistemas imunológicos comprometidos devido a doenças como o HIV ou devido ao uso de medicamentos imunossupressores podem estar mais propensas a desenvolver certos tipos de câncer. Além disso, algumas infecções virais também estão associadas ao câncer infantil.
Infecções virais
Certos vírus podem contribuir para o desenvolvimento de câncer em crianças. Um exemplo é o Papilomavírus Humano (HPV), que pode causar câncer de colo de útero em adultos, mas também está ligado ao desenvolvimento de tumores de cabeça e pescoço em crianças. Embora a vacina contra o HPV tenha reduzido o risco, a exposição ao vírus em idade precoce pode aumentar a predisposição para o câncer mais tarde na vida. A International Agency for Research on Cancer (IARC) identificou também uma correlação entre o vírus Epstein-Barr (EBV) e o desenvolvimento de linfoma, especialmente em crianças com sistemas imunológicos comprometidos.
HIV e imunossupressão
Crianças com o vírus HIV ou aquelas que tomam medicamentos imunossupressores devido a doenças autoimunes ou transplantes de órgãos têm maior risco de desenvolver cânceres, como linfoma e leucemia. Estudo realizado pelo National Cancer Institute (NCI) mostra que crianças com HIV têm 4 a 10 vezes mais chances de desenvolver linfoma não-Hodgkin do que crianças saudáveis.
Fatores desconhecidos e complexidade do câncer infantil
Embora os fatores genéticos, ambientais e infecciosos possam explicar uma parte do câncer infantil, ainda existe uma grande lacuna no conhecimento sobre as causas exatas da maioria dos cânceres em crianças. A National Cancer Institute (NCI) sugere que muitos cânceres infantis surgem devido a uma combinação complexa de fatores biológicos, ainda não completamente compreendidos. A falta de dados conclusivos sobre os fatores exatos que causam o câncer infantil torna a prevenção extremamente difícil.
Conclusão
O câncer infantil é uma condição rara, mas que exige atenção e cuidados especializados. O papel do oncologista pediátrico é essencial para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento das crianças afetadas por essas doenças. Identificar os primeiros sinais do câncer infantil pode ser desafiador, mas a consulta médica precoce é fundamental para aumentar as chances de cura e promover a saúde da criança.
Ao saber mais sobre os tipos de câncer mais comuns em crianças e os fatores que podem influenciar o desenvolvimento da doença, pais e responsáveis ficam mais preparados para reconhecer sinais de alerta e buscar o tratamento adequado o mais cedo possível. O tratamento do câncer infantil continua a evoluir, oferecendo melhores perspectivas para crianças diagnosticadas com essa doença, com a esperança de uma vida saudável, bem como plena. Por fim, se você notar qualquer um dos sintomas mencionados, procure um médico pediatra para garantir o melhor cuidado para seu filho.